O cenário da degradação humana
O crack toma conta das ruas de Ilhéus. E nossas autoridades parecem fechar os olhos para o problema.
Fecham os olhos tanto para o consumo, quanto para o tráfico.
Pessoas fumam e vendem a pedra em plena luz do dia, no centro da cidade. E é nesta mesma luz, diante dos olhos do cidadão comum, que enxergamos a degradação humana e um cenário desolador que, por certo, não se resolverá apenas com a detenção de pobres coitados à mercê de políticas públicas que possam contribuir para afastá-los do grande mal.
Esta semana, a gravidade do problema não ficou restrito aos barracos improvisados nas avenidas Dois de Julho e Soares Lopes, onde as pedras são constantemente acesas por homens e mulheres, jovens e idosos.
Um homem, um jovem alucinado pela droga, subiu numa viatura da polícia, pisou sobre o teto do veículo e como se estivesse pronto para trucidar quem não apoiasse a sua loucura, apontou um cabo de vassoura para quem o observava, como se portasse uma arma de grosso calibre pronto para detonar uma sociedade que não lhe estende a mão.
Foi levado pela polícia e meia hora depois desfilava, já mais calmo, pelas ruas do centro.
Anteontem à noite, um outro rapaz, muito provavelmente sob o efeito da droga, subiu em um poste, segurou em um fio de alta tensão e foi jogado no chão esvaindo-se em sangue, sob o olhar apavorado de pessoas que circulavam pela região do Bar Vezúvio.
O fato é que os governos não parecem enxergar - pelo menos em Ilhéus - esta triste realidade.
Se fizessem um pequeno esforço, se saissem dos gabinetes e fossem efetivamente às ruas, bastaria observar jovens sem perspectivas jogados em passeios, desacordados ou fora de si, que interceptam cidadãos comuns em busca do trocado que lhe garanta mais uma pedra.
E ai daquele que negue atendê-los.
O que se vê, de fato, é uma sociedade com medo e sem forças para agir.
E um governo que se contenta em atender um pequeno grupo de doentes para dizer que o que faz é atender a um problema coletivo.
Não atende.
Se bem, que o importante para esse povo é mesmo dizer que atende.
Apenas dizer.